Resgates Pessoais nº 1: Um Livreiro Em Minha Vida !

 
Considerada há 30, 40 anos atrás , área nobre de Salvador, a Avenida Sete de Setembro, situada no Relógio de São Pedro, concentrava um pólo comercial
bastante desenvolvido. Ali, os grandes negócios eram celebrados.
Hoje, com a chegada dos Shopping Centers, os grandes negócios acontecem do outro lado da cidade.

23 de Janeiro de 2012.

Todos nós possuimos um acervo interior, onde preservamos tudo aquilo que jamais deixaremos para trás.
Somos a mistura de tudo isso, no tempo e no espaço.
Cada detalhe que, as vezes, fazemos  emergir, nos convida a  novas e importantes  reflexões.
Pessoas, animais, coisas e projetos estão inseridos em nossas histórias e lembranças  mais  queridas...
Não temos como fugir disso.

Por isso, paramos o tempo, quando a saudade exige-nos uma pausa para tomar
fôlego e prosseguir reunindo certezas que nos surpreenderão em cada jornada
iniciada.


E, aí, a maquininha do tempo, começou a ser reativada, reproduzindo imagens antigas , mas ainda muito queridas e presas numa saudade do tamanho do mundo...

Estamos vendo o tempo andar depressa demais.
Os segundos, os minutos e as horas já não cabem em nossas rotinas ou as nossas demandas esmagam o tempo que não sabemos controlar?
Outro dia, peguei um antigo álbum de fotografias e comecei a  viajar nas propostas das lembranças  desinstaladas daquelas imagens. A maquininha do tempo reativava muitas delas, com riqueza de detalhes...

Muitas delas, tocaram fortemente o meu peito, a ponto de provocarem lágrimas saudosas.
Entre elas, estava uma  Bíblia, presenteada pelo meu sogro, um livreiro dono de uma espiritualidade impar!

Um livreiro dono de uma espiritualidade impar!

Por que optei por destacar a palavra livreiro e não homem?

As duas possibilidades poderiam ser usadas, mas a palavra livreiro, oferecia-me maior  suporte   para que naquele momento, eu pudesse mexer com tão queridas lembranças.

O meu sogro era dono de uma grande e conhecida livraria em Salvador!
Quem não conheceu a Livraria Continental?

Depois, também abriu com um amigo , a 1ª Livraria Cultura .
Hoje, todos conhecem a grande e renomada Livraria Cultura !

A Continental,  ficava em frente ao Relógio de São Pedro, em cima da Sorveteria Primavera, no 2° Andar, do Edifício Andion, em Salvador e a Cultura na Avenida Joana Angélica, em frente ao Convento da Lapa.

Aquele livreiro recebia os seus amigos, clientes ilustres e cidadãos comuns , como se estivesse em casa. Entre um cafezinho e uma boa conversa,  cada um selecionava  e levava para  casa os livros que desejava  consultar   mais calmamente.
Alguns os devolviam, outros voltavam e pagavam por eles.
Os clientes jovens ou estudantes, também, tinham  o seu crédito aprovado  e sem qualquer burocracia...
Quando a sua secretaria dificultava esse processo, ele interferia, dizendo-lhe :

- D. Teresa, vamos dar crédito aos jovens!

"O Livreiro" da Livraria Continental, também foi pioneiro na ideia de  servir um café aos seus amigos e clientes em seu espaço literário, só que isso acontecia espontaneamente, era uma cortesia e um requinte oferecido pela  casa e não um serviço suplementar.
Ali, as relações eram muito mais importantes do que o lucro almejado pelo dono.

Aquela Livraria  reunia  clientes ilustres! E a maioria,  hoje, ainda  poderá atestar esses fatos que aqui exponho.
Grandes homens do cenário Politico, Jurídico e Empresarial de Salvador se formaram com os livros que eram emprestados por esse livreiro, dono da Livraria Continental.
E esses homens depois de formados, bem sucedidos e famosos vinham cumprimentá-lo, em qualquer  lugar ou ambiente,  logo que era reconhecido e lembrado calorosamente.

Um livreiro fervorosamente apaixonado por livros e literatura universal. Um homem simples com uma alma nobre!
Um livreiro, que respirava leveza e simplicidade, era o avô dos meus filhos, presença constante e mais que desejada em nossas vidas!
Aprendi a gostar dele como se fosse o meu segundo pai.
Quanta saudade de todas essas trocas!
Preciso segurar , capturar,  por muito tempo, toda saudade que ainda permanece tão presente.

Como resgatar essas pérolas que ganhamos como presentes raros e que repentinamente, o tempo nos toma?
Se as temos, ao nosso lado, que tentemos preservá-las intensamente , enquanto, dispomos  dessa possibilidade.
Se, já partiram daqui, sem chances de um retorno qualquer, que possamos eternizar as lembranças marcadas pelos momentos bem compartilhados.  Isso, nem o tempo conseguirá nos levar.

" Para sempre é muito tempo. O tempo não pára ! Só a saudade é que faz as coisas pararem   no tempo'   Mário Quintana!"

   Lis Lisboa