Olhar o relógio e não vê o tempo passar,
buscar motivos para não voltar pra casa,
assaltar a geladeira, a cada meia hora,
ligar e desligar aparelhos sem quê nem pra quê,
andar de um lado para outro, sem saber que direção tomar,
entrar em coma alcoólico,
derrubar e quebrar objetos descontroladamente,
invadir os sinais irresponsavelmente,
deitar e não dormir,
acender, apagar luzes e cigarros sucessivamente,
ser vencido pelo cansaço, e só assim, relaxar...
São coisas que evidenciam ansiedade,
desconforto, irritação, angústia e depressão.
Se esse misto de sensações e muitas outras passaram a fazer parte
de sua vida, fique atento, para localizar a origem desses sintomas.
Caso, você constate que esse comportamento, advém da sua condição de estar sozinho, será preciso, esforçar-se para buscar entender, o porquê, de estar acontecendo tudo isso.
Tente exercitar a sua sensibilidade para produzir uma atmosfera amena e produtiva, em torno de si.
Permita-se, ficar sozinho em sua casa, curtindo prazeres e deleites, ainda, não experimentados e incorporados, aos códigos que destacam a sua história pessoal.
Em seu endereço não existe uma prisão.
Sinta-se em uma bela casa com paredes, portas e janelas.
As chaves estão sob sua guarda.
Tente aconchegar-se em seu próprio ninho e refúgio.
Não o rejeite nem o exclua de sua vida.
Suas referências mais intimas e pessoais ai, se destacam.
Só você não percebe quanto tempo, passou fora de casa...
Deixe a vida lá fora acontecer sem você por perto.
Dê um tempo pra você abrir as gavetas, trocar a água
do aquário...
Crie intimidade com esse universo interior e relaxe.
Estar sozinho não é sintoma de castigo, doença, fracasso ou luto .
É preciso atravessar os terremotos e tsunamis sem prejuízos emocionais.
O Ciclo das Estações sugerem digerir ideias antigas e plantar ideias novas.
Heráclito dizia que tudo muda em um constante devir, nada permanece.
Cada dia é literalmente diferente do outro. E cada ser consegue renascer, a partir do momento, em que se percebe, renovado e pronto para recomeçar.
É necessário aprender a desfrutar da própria companhia para que outros “insights” sejam acionados oportunizando boas conexões e equilíbrio no critério de escolhas e prioridades em sua vida.
Quem não aproveita a condição de estar sozinho para fazer um “remake”em sua porção interior, não conseguirá estabelecer especiais sintonias em sua forma de relacionar-se com o outro.
Você seria uma boa companhia para si mesmo, se pudesse assistir ao
filme de seus tórridos e solitários momentos de ansiedade e desconforto?
Tente “serenar” os momentos em que, “estar sozinho” valerá para descobrir-se, como um ser mais flexível e capaz de recriar-se, diante do vem e vai que reprograma as necessidades do saber viver a dois, com as cores que a realidade timbra para todos, sem pena nem arrependimentos.
Não foi à toa que Baudelaire, órfão desde os seis anos de idade, dizia: "Quem não sabe povoar a sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão."
Lis Lisboa
